Após décadas de advertências sobre a necessidade de preservação dos recursos ambientais, algumas conjecturas transformaram-se em realidade. As cidades avançam ao passo que as reservas naturais se esvaem e várias capitais do mundo já enfrentam um sério racionamento energético. O grande desafio da arquitetura atual é, conseqüentemente, adequar novos materiais, formas, tecnologia e qualidade de execução de forma sustentável. Tudo isso sem deixar de lado a preocupação estética, o lado poético que uma construção deve ter. Eficientes, sem desperdícios e com menor consumo de energia, os projetos deste século visam preservar as fontes ambientais, o que significa mais cuidado no agenciamento de espaços e especificação de componentes. "Devem incorporar naturalmente conhecimentos científicos que embasam o desenvolvimento urbano sustentável", defende o arquiteto Bruno Padovano.
De maneira intuitiva, a boa arquitetura sempre caminhou em harmonia com a natureza, respeitando seus arredores. Contudo, "o desenvolvimento urbano vem atropelando a paisagem. O desejo do arquiteto não tem sido respeitado e, sem uma política de planejamento e ocupação do solo, a sociedade é quem paga o preço", constata Marcel Monacelli, que atua na área há muitos anos.
Agora, depois de séculos de inconsciência, a humanidade desperta e age tendo em vista a própria sobrevivência. "É tempo então de, nós arquitetos, implementarmos propostas de uma arquitetura integrada, correta, limpa e filosoficamente econômica em termos ambientais", enfatiza Sidônio Porto.
Sidônio Porto nasceu em Minas Gerais, formou-se arquiteto pela Faculdade de Arquitetura da UFMG em 1964. Foi diretor do IAB/MG e da AsBEA/SP onde atualmente é conselheiro. Executou projetos de agências bancárias, conjuntos industriais, shopping centers, centros administrativos, residenciais, hotéis, conjunto de cinemas, prédios de escritórios, entre outros, em vários estados e também no esterior. Entre os trabalhos mais recentes, destaca-se o Campus Industrial Flextronics International.
Desafios Atuais
Melhorar a qualidade de vida das populações nas metrópoles e cidades em geral, especialmente nos países em desenvolvimento, onde as carências são maiores, é a principal tarefa a que se propõem os arquitetos. Para Padovano, isto implica requalificar os espaços públicos e reciclar edifícios de valor histórico. "As obras precisam estar voltadas a um novo equilíbrio com o meio ambiente e à construção de habitações de interesse social, essenciais ao bem-estar do ser humano", argumenta o arquiteto.
A procura por processos construtivos mais racionais, que economizem tempo e custo, é o fator de constante evolução dos projetos. Marcel Monacelli enfatiza que a pesquisa por novos materiais é incessante, sendo a combinação dos mesmos a nova tendência. "Afinal, não podemos imaginar que todos os projetos são destinados a uma vitrine, como um museu. Hoje, a tecnologia e a sabedoria de bem aproveitá-la é o que qualifica a proposta definida num projeto", salienta.
Bruno Roberto Padovano é diretor da Padovano e Assiciados Arquitetura S/C Ltda e presidente do Instituto para o Desenho Avançado IDEA. Arquiteto e urbanista formado pela FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde é professor diretor. Também é mestre em Arquitetura e Desenho Urbano pela Graduate School of Design, Harvard University. Entre seus projetos se destacam: Campus Universitário da UNIFIEO e a Sede Administrativa e fabrica da APC American Power Conversion - Alphaville.
No contexto da globalização, o arquiteto Jonas Birger enquadra a tecnologia como a grande vedete do século XXI, pois permite a especificidade e a particularidade. "O museu Guggenheim de Bilbao é um excelente exemplo. É permeado por tecnologia de ponta, desde o projeto até os materiais. Só existe desta forma porque foi projetado em CAD e é revestido por titânio", explica.
Na realidade, a grande revolução consiste na capacidade de modelagem e previsão que as ferramentas do CAD trazem ao projeto arquitetônico. Cada vez mais, novas tecnologias, como painéis de fachada, banheiros prontos, lajes planas e controles prediais aumentam a complexidade e a importância do projeto que, paulatinamente, se assemelhará mais a um manual de montagem.
Hi-Tech
O aço e as fachadas-cortina são a essência da industrialização. Em oposição, o concreto moldado "in loco" e a alvenaria revestida representam a mão-de-obra barata e sem especialização. Hoje, a rapidez, a leveza e a precisão da construção em aço, complementada por elementos pré-moldados, não são apenas tendência e sim a realidade da arquitetura do novo milênio.
Jonas Birger é diretor da AsBEA e da Jonas Birger Arquitetura, escritório com foco no mercado imobiliário e já projetou cerca de 300 edifícios, onde destacam-se o Polo Atacadista de Modas e a Torre 2000.
"Para os próximos anos, descortina-se uma arquitetura que explicita a tecnologia disponível, sem cair em simulações fantasiosas do século XXI, como nos famosos desenhos dos Jetsons" , acredita Jonas Birger. "Sem ser rotulada por estilos, como vimos no transcorrer do século passado, mais livre e profissionalizada" , completa Marcel Monacelli. O arquiteto Sidônio Porto arremata: "Hi-tech ou low-tech? O que importa, e essa será sempre a tendência, é a solução adequada e correta para cada tema, tempo e lugar".
Meio e Ambiente Integrados
Uma identificação cada vez maior entre paisagem e cidade, onde os limites entre o natural e o artificial tendem a se dissolver era o ideal poético de Ebenezer Howard com sua cidade-jardim, e de Wright em Broad Acre City. Várias cidades americanas, mais ou menos como Brasília, seguem um modelo em que se destaca o centro de negócios e serviços verticalizado, rodeado por condomínios que se fundem e se espraiam de forma a não se perceber onde acabam. Sidõnio Porto critica: "São o reino do automóvel e da solidão no paraíso.
O modelo oposto seria uma Manhattan, onde habitação, lazer e trabalho se integram, mas, com exceções pontuais, a natureza não comparece", lamenta.
Existirá um modelo? Para Jonas Birger, a nova tecnologia está embaralhando os limites do natural e do artificial. "Existe nas grandes cidades uma grande procura por esportes radicais e contato com a natureza. A questão é como a arquitetura lidará com este fenômeno sem cair no kitsch", alerta o arquiteto. A fórmula para reintegrar o homem ao meio ambiente pode estar presente no próprio dia-a-dia. "Habitar, circular, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito de forma integral, deveriam ser, a meu ver, a perspectiva 'criada e defendida' por todos", conclui Sidônio Porto.
Workspheres: Novos conceitos na ocupação do espaço interno
Mostrando que a reformulação não se limita ao lado de fora dos edifícios, o novo século já tem inspirado muitos profissionais no que diz respeito a tendências do design de interiores de escritórios e sua influência nas relações de trabalho. Um exemplo foi a exposição Workspheres, do Museu de Arte Moderna de Nova York, que apresentou ao mundo, no começo do ano, projetos de seis grupos de designers internacionais que redefiniram o escritório num novo conceito de ambientação e ferramentas de trabalho.
Marcel Monacelli é titular do escritório que leva seu nome. Formado há 20 anos, é presidente da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) e atua, principalmente, no mercado corporativo, na área de planejamento de escritórios e de sedes empresariais. Entre seus principais clientes estão: Avents Pharma, Pinheiro Neto Advogados, Unisys, DirecTV e Comgás.
"0 título dessa exposição vem da concepção do ambiente individual de trabalho como um espaço privado e pessoal, que melhor concebe e possibilita a interação entre pessoas e ferramentas de trabalho", explica Paola Antonelli, curadora de arquitetura e design e organizadora do evento. Para ela, o escritório do futuro vai atrair, manter e motivar os empregados. "Será um lugar onde eles poderão contrabalançar família e trabalho, conforto e energia, nova e velha tecnologia. Um espaço que oferece mais chances de comunicação, liberdade, inspiração, interação e melhores métodos de colaboração", acredita.
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